quarta-feira, 13 de junho de 2012

Tema V - As Linhas Mestras da Avaliação dos Sistemas Educativos (continuação)

AVALIAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO E AVALIAÇÃO DOCENTE

 
A avaliação do desempenho docente tem-se tornado uma prioridade em termos de  investigação e da ação política. Esta situação acontece, não porque seja uma questão recente, mas porque se tornou consensual que a Educação é um dos pilares mais importantes  no desenvolvimento económico de um Estado.
A estreita ligação da economia à Educação vem sendo evidenciada com a globalização e com a concorrência que os diferentes Estados enfrentam entre si, na procura de uma hegemonia.

Os países do dito mundo ocidental, nomeadamente a Europa e os Estados Unidos da América, quando colocados perante os fracos desempenhos obtidos pelos seus alunos em testes de parametrização internacionais, aumentaram a sua preocupação com a eficácia dos seus sistemas educativos, nomeadamente com a qualidade do desempenho docente.
A investigação científica em Educação aponta cinco traços de modernização dos sistemas educativos que realçam a importância do desempenho profissional dos professores e da eficácia do ensino.
“1. A emergência de uma cultura de desempenho e a percepção de que é preciso medir a eficácia dos profissionais de ensino para estabelecer comparações (Carley 1988);
2. A tendência para aumentar os mecanismos de prestação de contas e a percepção da necessidade de ter informação que possa ser dada aos parceiros (pais, autoridades locais, interesses culturais e económicos) sobre a eficácia individual e organizacional (Norris 1988; Power 1999; Whitty et al. 1998);
3. O desenvolvimento das escolas como organizações aprendentes, o qual assenta na utilização inteligente de um conjunto de informações sobre o desempenho dos alunos, da escola e dos professores para melhorar a qualidade educativa oferecida e a dos resultados das aprendizagens dos alunos (MacBeath et al. 2002);
4. A crença no desenvolvimento profissional contínuo e na aprendizagem ao longo da vida para melhorar a eficácia dos professores (Fullan 1999);
5. A preocupação com a eficácia educativa, relativamente à equidade social e educativa (Slee et al 1998; Weiner 2002).” (Ramos, 2008, p.1).

A atividade política e a investigação reconhecem que conceitos como “eficácia educativa”, “o desenvolvimento profissional de professores” e a “cultura de avaliação do desempenho organizacional” são centrais quando nos referimos ao desenvolvimento da Educação e da investigação.
No entanto, outra razão de cariz bem díspar vem justificar o interesse e a importância dos assuntos da avaliação: os resultados catastróficos relativos à numeracia e à iliteracia e os baixos níveis de qualificação académica, mesmos nos países ditos de industrializados. Segundo Ramos,  Michael Fullan identifica as razões que presidem a este desastre: i) o volume de reformas avulsas, sem caráter sistémico, que têm sido levadas a cabo sem monitorização e ii( a respetiva avaliação, contribuindo para o fracasso das mesmas.

Os estudos das últimas duas décadas têm demonstrado que os fatores que mais influenciam o binómio escola - sucesso dos alunos são o professor e a qualidade das suas práticas.
Desta forma , compreendeu-se que nenhuma reforma pode ser feita contra os professores, mas sim com os professores, pois quando “são actores empenhados no processo e não se limitam a um papel de agentes. Dizendo de outro modo, uma reforma é tão eficaz quanto as pessoas são eficazes.” (Ramos, 2008, p.2)

Os objetivos da avaliação do desempenho docente mais referenciados são a responsabilização e a prestação de contas, por um lado e o desenvolvimento profissional, por outro.
A prestação de contas decorre do dever social do professor informar a comunidade local e nacional dos resultados do seu trabalho. O “apoio ao desenvolvimento profissional” reflete a necessidade de o professor promover o seu desenvolvimento pessoal e profissional para melhorar permanentemente, e ao longo da vida, os seus conhecimentos, capacidades, atitudes e valores e a qualidade do seu trabalho.
Os modelos de avaliação de professores polarizam-se em torno desses objetivos, realçando um ou outro, dependendo de cada país.

As tendências atuais da avaliação têm, sobretudo, a ver com a resposta a duas questões essenciais: “Avaliar para quê?” e “Avaliar para quem?”. A resposta a estas questões está associada ao modelo de desenvolvimento de cada uma dos Estados, à forma teórica que enforma o modelo de avaliação e à compreensão da imagem que a sociedade de cada Estado tem dos seus professores.
A mudança de perspetiva surge com o balanço entre a responsabilização e a prestação e contas ; o desenvolvimento profissional está associado ao facto de se considerar que a melhoria do ensino e das aprendizagens ter por base em comparações referenciadas (benchmarking), colocando a ênfase nos resultados obtidos, em particular nas formações estruturantes.
Esta maneira de percecionar a avaliação do desempenho profissional em função de objetivos e resultados coloca a questão pertinente de saber que referência deve ser tida em conta na definição dos objetivos da avaliação. Todas estas questões não podem nem devem esquecer que a grande preocupação, o objetivo último da avaliação é a obtenção da melhoria dos resultados dos alunos e a eficácia da ação docente.

Estas questões de avaliação docente têm sido tudo, menos consensuais, já que se tem revelado de extrema de dificuldade conjugar os interesses pessoais com os interesses das organizações, nomeadamente das organizações profissionais docentes. Esta dificuldade tem-se traduzido em permanentes tensões, muitas vezes potenciadas e galvanizadas pela própria tutela, numa lógica de “dividir para reinar”.
“Um sistema de avaliação de professores completo tenderá a enraizar-se nas duas dimensões, sumativa e formativa, ambas desejáveis e necessárias para servir produtivamente as necessidades dos professores, individualmente considerados, bem como as da escola e da comunidade” (Ramos, 2008,p. 4). Ramos chega mesmo a afirmar que as duas dimensões referidas “devem convergir, apoiar-se reciprocamente como partes intrinsecamente associadas no processo total de avaliação que tende a enfatizar a relação dinâmica entre o indivíduo e a instituição.” (Ramos, 2008, p.4)
Uma avaliação baseada em pressupostos sérios terá de ter, como grande objetivo melhorar as práticas individuais e organizacionais, respondendo muito melhor aos desejos dos alunos e da comunidade educativa.
Os professores são unânimes em anuir à necessidade da implementação de um modelo de avaliação que promova o mérito e excelência; no entanto, a introdução de constrangimentos administrativos de quotas e vagas como requisitos para a progressão na carreira, contrariam o objetivo do respeito pelos interesses individuais de cada um.

Bibliografia:
RAMOS, C. (2008). "Novos caminhos de avaliação de professores: tendências e estratégias", in Revista ELO nº 15. Guimarães: Centro de Formação Francisco de Holanda.











 

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